COM a graça de Deus até hoje sempre tenho vivido em países onde o ser católico era maioria absoluta, uma espécie de carta verde para entrar em todos os lugares e ser respeitado, reconhecido, onde ser sacerdote e carmelita descalço era sem dúvida “status” que permitia, se a gente quisesse, determinadas mordomias. Mas Deus nos mostra que isto não constitui a alegria de ser seguidor de Jesus de Nazaré. Jesus
veio anunciar as bem-aventuranças, programa do reino, projeto de vida e constituição dos que se decidem a fazer do evangelho o caminho preferido. Encontrar-se a viver num país onde o ser cristão é uma minoria absoluta e dar testemunho de Cristo sem medo, mas também sem arrogância, saber que ser de Cristo comporta uma série, não de privilégios, mas de exclusão sistemática e ser olhado como alguém estranho a um corpo coeso, um intruso que não é amado mas suportado porque não tem outra coisa a fazer.
Nestas situações percebemos dentro de nós que seguir Jesus é algo de maravilhoso, de intenso e nasce dentro uma vontade de sair pelas ruas afora e gritar como os apóstolos logo depois da descida do Espírito Santo. Agora estou compreendendo perfeitamente porque os cristãos autênticos sofrem quando veem a própria fé rejeitada por aqueles que vivem ao seu lado. Sentir Deus que queima dentro do coração, saber que se possui a verdade e não poder manifestá-la porque não nos é permitido plenamente ou não é conveniente segundo a prudência humana. O que nestes casos resta é só assumir a atitude do testemunho silencioso das obras, onde a nossa maneira de agir, de ser, nos diferencia dos demais. É o nosso dizer não a tantas formas de vida que não estão de acordo com a palavra de Deus ou com a verdade ou com dignidade humana. Um sofrimento paciente, silencioso, mas ao mesmo tempo fecundo como o de Cristo que nas últimas horas de sua vida só se oferecia para a salvação de todos. O sofrimento de não poder anunciar e de não saber como os que estão ao teu lado podem interpretar a tua maneira de agir.
A alegria de ser católico cristão é também uma alegria interior que ninguém pode compreender e experimentar a não ser você. Sentir dentro de nós que não podemos ser omissos e que devemos mais do que nunca revelar com a vida que Jesus é o salvador, que o evangelho não ensina nada de ódio ou de superioridade, mas só a servir os mais necessitados. Quando visito o nosso hospital que abre as portas e o coração para todos, logo vejo quem são os cristãos que logo vêm me cumprimentar e os que não são, que me olham como estranho ou melhor nem me olham. Não importa que sejamos olhados ou não, o que importa é sentir a força do amor que se agita em nós por ser alimentado todos os dias pelo Corpo e Sangue de Cristo. A verdadeira missão não é anunciar Cristo porque multidões nos escutam, mas porque se crê e se ama a Jesus.
Nunca agradecerei suficientemente a Jesus por ter me dado a oportunidade de compreender estas duas realidades que no Brasil jamais teria compreendido: a alegria de sofrer por Cristo e a alegria de ser minoria de Cristo. Poder ser sinal da Igreja viva e ao mesmo tempo ver como Teresa do Menino Jesus, a missionária intrépida e amada também por aqueles que não acreditam em Cristo. Ela, com seu jeito manso e meigo, sabe como abrir os corações mais endurecidos. Que por primeiro coração abra o meu, a mais amor a Jesus e aos irmãos.
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